CADERNOS DE HISTÓRIA IV
I.
COMUNIDADE DE CAÇADORES E RECOLECTORES
Os
primitivos habitantes de Moçambique foram os KHOISAN. Estes povos eram
caçadores, reco1ectores e pescadores; tinham um modo de vida nómada. Os seus
instrumentos de traba1ho eram muito primitivos; estavam organizados socialmente
em bandos; O trabalho era dividido por sexo e idade e o produto final
distribuído equitativamente para todos que tinham trabalhado. Eram pois sociedades
sem exploração do homem pelo homem. Mas, por volta dos séculos II/III, povos
provenientes da orla noroeste da Grande Floresta Equatorial, em vagas
sucessivas, chegam à região austral de África - os povos Bantu.
II.
POVOS DE ORIGEM BANTU: A EXPANSÃO BANTU
Sobre a
expansão Bantu, existem, até hoje, algumas controvérsias. Presume-se que o alargamento
do deserto do Saara, o aumento populacional na orla noroeste da floresta
equatorial, a falta de terras cultiváveis e a difusão da tecnologia do ferro e
das práticas agro-pastoris estariam na origem da referida expansão.
De entre vários autores consagrados, destaque particular para
o trabalho realizado por MARTIN
HALL, que resumiu em três aspectos fundamentais as grandes discussões que linguistas,
arqueólogos e historiadores têm realizado sobre a expansão bantu:
1°
Aspecto
Os
povos bantu eram uma nova raça que teria
imigrado para o sul, substituindo ou absorvendo as comunidades primitivas
que habitavam a África Austral e a concepção rácica da expansão, prontamente
criticada e abandonada.
2°
Aspecto
Os
povos bantu não eram uma nova raça, mas sim povos falantes de línguas aparentadas entre si - O bantu. E a chamada
teoria linguista. (O termo bantu passou a ser utilizado a partir de 1862, graças ao trabalho do linguista
Alemao, Bleek, que descobriu um grande parentesco em cerca de 300 línguas
faladas na região austral).
Esta
teoria, tem várias vertentes para exp1icar a expansão bantu:
i)
Para GREENBERG, Joseph, a migração bantu deu-se em direcção
ao sul, a partir da zona de fronteira entre os Camarões e a Nigéria;
ii)
GUTHRIE, Malcom, defende que o centro da expansão teria
sido a região do Luba, na província do Shaba, no Zaire.
iii)
OLIVER, Roland, concorda com ambos, defendendo que suas
teorias se complementam e acrescenta um novo dado: a expansão obedeceu a quatro
fases distintas.
iv) PHILLIPSON, David, defende
que a origem da expansão encontra-se na floresta dos Camarões, com dois
movimentos distintos: um que contornou a Grande Floresta para a região dos Lagos
(a oriente) e o outro que o seguiu, atravessando a floresta em direcção ao
Zaire e Angola;
v) EHRET,
Cristopher, acredita que as línguas bantu espalharam-se através
da zona tropical, com um período de diferenciação local nas regiões de floresta
de savana, antes da sua expansão final para oriente e região sul-oriental.
Do exposto, conclui-se que os que defendem a teoria
linguista concordam que o centro da expansão bantu, o núcleo proto-bantu,
estaria na orla noroeste da floresta equatorial e que em vagas sucessivas
teriam chegado à África Austral.
3°
Aspecto
A
expansão bantu estaria ligada a domesticação das plantas e animais, a cerâmica
e ao trabalho do ferro. O desenvolvimento desta economia mista (agricultura,
pastorícia e metalurgia), permitiu a sedentarização das populações, a
especialização no trabalho e o surgimento da desigualdade social.
Os
bantu ja dominavam a técnica da metalurgia do ferro. Como esta técnica chegou a
África Austral? Observa 0 mapa 2
Em
Moçambique, evidências da expansão bantu, teriam sido gradualmente reveladas em
diversas estações arqueológicas na Matola, em Xai-Xai, Vilanculos, Marrape,
Hola-Hola, Mavita, Chongoene, Bilene, Zitundo, Serra Malia, Monte Mitukue,
entre outros locais.
III.
AS SOCIEDADES MOÇAMBICANAS APÓS A FIXAÇÃO BANTU
Durante
a expansão, atendendo ao tipo da sua economia, os bantu preferiram localizar as
suas aldeias em terras férteis e junto de cursos permanentes de água. A base
económica era a agricultura (mapira e mexoeira). Por isso, eram sedentários. A
caça, a pesca, olaria, tecelagem e a metalurgia do ferro, eram actividades
complementares da agricultura. A terra, meio de trabalho principal era
património da comunidade. Todos tinham acesso a ela, mas cabia aos membros
seniores a distribuição e o controlo da sua correcta exploração. O exercício de
tarefas não produtivas por um grupo reduzido da população e o aparecimento do
excedente contribuíram para o surgimento da exploração do homem pelo homem.
Estas relações de produção, expressas em tributos quer em trabalho quer em
espécie, por exercidas no quadro das relações de parentesco, eram
conscientemente assumidas pelos produtores directos, como manifestação de
reconhecimento pelas valiosas actividades propiciatórias que chefes
desempenham.
O
sistema de parentesco, assente em linhagens e clãs, desempenhava um importante papel
nas esferas política, económica, religiosa e social. Era como parente que o
individuo tinha acesso aos recursos económicos e demais direitos da comunidade.
Os parentes mais velhos, herdeiros e guardiões das experiencias e tradições
comunidade, portanto, os únicos detentores do saber, monopolizavam o exercício
das tarefas técnico-administrativas e magico-religiosas. Orientavam as
cerimónias da invocação da chuva pediam aos antepassados a fertilidade do solo,
a estabilidade política e o sucesso das actividades económicas. Detinham
igualmente, o poder de decisão sobre as alianças matrimoniais e políticas.
Estes membros seniores, como chefes religiosos, eram considerados os elos de
ligação entre vivos e os mortos.
3.1.
Os Grupos etno-linguísticos mocambicanos: as diferenças norte/sul
Em
Moçambique, localizamos dois tipos de linhagens: ao norte do rio Zambeze,
predomina a linhagem matrilinear e ao sul do mesmo rio, a patrilinear.
a) Linhagem matrilinear:
neste sistema, o filho nascido de um casamento pertence a família da mãe;
pratica-se a uxorilocalidade, isto é, com o casamento o homem
transfere-se da povoação para a da mulher. O dote (mahari, em emakua) de maior
significado, é entregue pelo homem a mulher. A educação dos filhos não e
assegurada pelo pai, mas sim pelo tio materno. A transmissão do poder, obedece
mais ou menos a mesma regra: com a morte de um chefe, o poder não passa para o
filho mais velho, mas sim para o sobrinho, filho da irmã mais velha. A caça, a
pesca e a construção de casa eram as únicas actividades masculinas relevantes. As mulheres, praticando a agricultura, é que
asseguravam o sustento das
comunidades.
b)
Linhagem patrilinear: o filho nascido de um casamento pertence à família do
pai. Pratica-se a virolocalidade, isto é, a transferência da mulher
para a povoação do marido por ocasião do casamento, e um indicador do papel
preponderante que os homens desempenhavam na vida económica e social. O dote (lobolo) pago pelo noivo aos sogros
aparece como urn mecanismo de estabilidade dos casamentos e de subordinação da
mulher em relação ao homem. A transmissão da herança é de pai para o filho mais
velho. A prática da pastorícia, actividade masculina por excelência, conferia
aos homens o acesso a um bem duradouro, principalmente expresso em gado bovino.
O gado era o principal meio de pagamento de lobolo e simbolizava o poder
económico, ou melhor, representava a capacidade de adquirir esposas.
valeu pelo artigo será de grande ajuda para o teste de historia de Moçambique
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