O CONTRIBUTO DA IMPRENSA NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA ACTIVA E DO ESTADO
DEMOCRÁTICO EM MOÇAMBIQUE: CASO DO SEMANÁRIO SAVANA
ENTRE 1994-2005[1

Princidónio Abrão Matavel[2]
RESUMO
Esta reflexão aborda o contributo da imprensa na construção da cidadania
activa e do Estado democrático em Moçambique: caso do Semanário SAVANA entre
1994-2005. É uma pesquisa que incorpora abordagens políticas, económicas,
culturais, sociais e ideológica. A sua importância reflecte os diferentes
momentos da vida da sociedade moçambicana. O artigo apresenta a seguinte
estrutura: introdução, na qual expõem a justificativa, o problema de estudo, a
hipótese, os procedimentos metodológicos, a revisão da literatura, o referencial
teórico e a relevância. Traz conceitos como media, Estado, democracia e
cidadania activa, faz uma breve resenha da imprensa escrita em Moçambique.
Ainda analisa a imprensa como um grupo de pressão de modo a aferir o seu
contributo na construção da cidadania activa e do Estado democrático em
Moçambique. Por fim, apresenta as considerações gerais, recomendações e a
revisão bibliográfica.
Palavra-chave: Imprensa, Estado,
democracia e cidadania activa.
ABSTRACT
This reflection approaches the contribution of the press
in the construction of active citizenship and the democratic State in Mozambique:
SAVANA Semanario case between 1994-2005. It is a research that incorporates
political, economic, cultural, social and ideological approaches. Its
importance reflects the different moments in the life of Mozambican society.
The article presents the following structure:
introduction, in which the justification is presented, the study problem, the
hypothesis, the methodological procedures, the literature review, the
theoretical reference and the relevance. It brings concepts such as media,
state, democracy and active citizenship, makes a brief review of the written
press in Mozambique. It also analyzes the press as a pressure group in order to
assess its contribution to building active citizenship and the democratic state
in Mozambique. Finally, it presents general
considerations, recommendations and bibliographic review.
Keyword: Press, State, democracy and
active citizenship.
INTRODUÇÃO
Ao longo do processo histórico, Moçambique testemunhou um avanço
significativo na reflexão, produção, partilha e consumo de meios da informação.
As formas de comunicar, como a imprensa, os telefones, a radiofonia, a
televisão, o cinema e a internet, estão cada vez mais em ritmo acelerado devido
a tecnologia de ponta e a sua rápida propagação.
Os jornais sempre representaram um elemento de difusão das preocupações dos
povos na história dos meios de comunicação social, pois neles se encontram
reflectidos vários assuntos da sociedade de índole política, social, cultural,
económico e ideológico.
Assim, o presente artigo reflete sobre “o
contributo da imprensa na construção do Estado democrático, onde analisa a função social, política e ideológica dos meios de
comunicação social, de modo particular do Semanário SANAVA destacando a sua
importância nos diferentes momentos da vida política, económica, social e
cultural da sociedade moçambicana.
Os últimos anos da história recente do país foram marcados por temas ligados
a imprensa, Estado, cidadania e democracia que têm levado acesos debates na
esfera académica moçambicana, tendo por vezes ocupado grandes espaços nos meios
de comunicação social. Estes debates se multiplicaram de forma diversificada
desde a emergência das organizações e associações da sociedade civil
consolidadas pela aprovação da nova constituição de 1990 que abriu espaço para
a liberdade de imprensa, o multipartidarismo e democratização do Estado. A
partir de então, criou-se um espaço para as novas relações entre os diferentes
actores da sociedade moçambicana, estabelecendo-se uma postura de negociação
assente na possibilidade de uma actuação conjunta entre a imprensa e o Estado, tendo como base que o jornalismo não admite um estilo, mas vários. Cada órgão
de comunicação social tem um determinado estilo, como pensava Sousa (2001), na
sua publicação intitulada “As notícias e
os seus efeitos”, ao considerar que cada órgão de comunicação social tem um
determinado estilo. Todavia, encontram-se elementos estilísticos comuns a
vários órgãos jornalísticos.
Trata-se de uma reflexão alicerçada na alteração da Constituição de
Moçambique, em 1990, que foi precedida pela assinatura do Acordo Geral de Paz
no dia 4 de Outubro de 1992. Este acordo veio marcar o fim de 16 anos de guerra
civil que opunha as forças governamentais e a Resistência Nacional de
Moçambique (RENAMO) e a implantação do regime democrático e multipartidário.
O cenário da democracia permitiu que o Estado moçambicano abrisse um espaço
para o funcionamento das instituições do direito privado, possibilitando desta
forma, à emergência de novos actores, como são os casos de partidos políticos,
empresas privadas, o que permitiu uma maior abertura do mercado, o aumento
acentuado do capital estrangeiro, aparecimento massivo das organizações
não-governamentais (ONG).
A escolha deste tema deveu-se ao facto de ter uma admiração pela imprensa
escrita moçambicana, enquanto arte de comunicar, formar, informar transmitir
sentimentos e educar através do conteúdo, significado e actualidade das suas
abordagens do dia-a-dia.
Como natural da
cidade de Maputo, sempre mantive a minha admiração pelo conteúdo, escrita e
critica apresentada pelo Semanário SAVANA comparativamente aos meios de
comunicação pró-governo. Portanto, um estudo virado a imprensa independente em
Moçambique, constituiu um grande privilégio de debate aberto de assuntos
endógenos, assim como exógenos.
Outro sim, reside no
facto da imprensa ter conquistado um espaço relevante na arena política e sendo
cognominados de quarto poder em paralelo aos outros três poderes: o poder
executivo, o legislativo e o judicial. Na verdade, os media estabelecem uma
relação intrínseca e complementar entre os poderes acima referenciados. Outro
factor que motivou para esta pesquisa foi o facto de estar relacionado com a
importância social, ideológica e educativa que a imprensa desenvolveu na
construção da cidadania activa e do Estado democrático.
Uma outra razão não
menos importante prende-se com os estudos sobre o contributo da imprensa em
Moçambique constituírem uma das áreas
negligenciadas em pesquisas sociais, em particular, no âmbito da ciência
política, pois a literatura existente é predominante do período colonial, ou
seja, é uma literatura com teor eurocêntrico.
Assim, a pesquisa tem como titulo: “O contributo da imprensa na construção
da cidadania activa e do Estado democrático em Moçambique: caso do Semanário
Savana entre 1994-2005”. Objectivo prende-se como a análise do contributo da
imprensa na construção do Estado democrático e da cidadania activa em
Moçambique.
No que concerne aos
aportes científicos, a presente dissertação recorreu a um conjunto de autores
que abordam a questão dos media, onde das várias obras consultadas pode-se
fazer menção as seguintes: Mazula (2000) “A
construção da democracia em África: O caso moçambicano”, na qual o autor
discute o contributo dos media na participação e na promoção do diálogo. Também
é papel dos media colocar em diálogo o cidadão (do campo e cidade), o mercado,
a sociedade civil e a sociedade política para o desenvolvimento equilibrado do
país. Mazula (1995), na Obra “Moçambique
Eleições Democracia e Desenvolvimento”, faz esta abordagem tendo como base
o papel da imprensa no processo eleitoral em Moçambique. Traz uma análise da
participação da comunicação social no processo da democratização do país que
tinha como seu trampolim a realização
das primeiras eleições gerais multipartidárias. Na sua obra “Moçambique 10 Anos de Paz”, Mazula
(2002), faz uma retrospectiva do percurso dos media em Moçambique partindo dos
primeiros anos de Moçambique independente até a emergência dos media
independentes e a intervenção desse sector para a consolidação da paz e da
democracia no país. Por fim, estão esboçadas algumas ideias do que deveria ser
o papel dos media no processo contínuo da consolidação da democracia e da paz
em Moçambique. Lopes (1976), destaca também, na sua obra “Iniciação ao Jornalismo, a importância dos meios de comunicação
social na promoção do diálogo. O seu livro pretende ser um compêndio elementar
da actividade jornalística. Aqui se reúnem os modelos básicos de elaboração das
notícias, de recursos técnicos para divulgar, os princípios da teoria da
comunicação social e, uma história breve da imprensa portuguesa e dos seus
limites em matérias de liberdade á informação. O objetivo desta obra não é de
defender uma tese, mas sim uma formação jornalística. Na mesma esteira de
argumentação, Carrilho (2008), na obra “A
criança e a televisão: contributos para o estudo da recepção”, mostra a
importância da media no período contemporâneo, na disseminação de palavras e
imagens, onde os media aparecem associados a cultura de massas, a propaganda as
instituições. O campo de estudo para esta abordagem é da criança e a televisão,
o qual tem dois objetivos: debater em torno da televisão e da globalização e o
processo de recepção, e a sua implicação no mundo juvenil e o segundo foi de
destacar a opinião pública. Sopa (1996) na obra “140 Anos de imprensa em Moçambique”, faz uma revista da imprensa
em Moçambique desde o tempo anterior ao colonialismo, o tempo colonial até o
período de 1975, período da independência de Moçambique.
Contrariamente as
abordagens já referenciadas, este estudo difere de outros, embora aborde a
questão da democracia, da imprensa e dos media no geral, aqui pretende-se
aferir até que ponto os media, particularmente a imprensa escrita, contribui
para a construção de um Estado democrático em Moçambique num exemplo do
Semanário SAVANA.
Quanto ao grau de universalidade ou relevância da pesquisa, a pesquisa
consiste em discutir no meio académico o contributo da imprensa escrita na
construção da cidadania activa e da democracia participativa, tendo como
exemplo o Semanário SAVANA.
Cientes de que este artigo não abordou todos os assuntos, relacionados com
a imprensa, democracia e cidadania activa, o mesmo, poderá eventualmente servir
de uma ferramenta valida para discursões científicas e suscitar novos estudos e
pesquisas.
Tem-se como referencial a “teoria do agir comunicativo” do filósofo e sociológico Alemão
Jurgen Habermas, pensador pertencente a segunda
geração da Escola de Frankfurt. Contribuiu para a implementação do Estado de
direito democrático. Segundo a sua obra Consciência moral e agir comunicativo
(1981) prevê um modelo de agir orientado para o entendimento mútuo, no qual os
actores envolvidos procuram harmonizar internamente seus objectivos e acções
com acordo obtido via dialogo efectivo.
Do que foi referido nos pontos anteriores e com base na literatura sobre a
imprensa, formulou-se o seguinte problema: Qual
foi o contributo da imprensa, de modo particular do Semanário SAVANA na
construção da cidadania activa e de um Estado democrático em Moçambique?
Em função do problema que se coloca, adiantou-se como hipótese: “aventa-se
que na prossecução das actividades do quotidiano, a imprensa produz e publica
informações sobre o país por via da escrita, com o objectivo de deixar os
moçambicanos, informados e formados, contribuindo deste modo para a construção
de um Estado democrático. As intervenções na elaboração de políticas públicas
que visam permitirem a participação do cidadão comum na vida política do país e
na mediação dos governados e dos governantes.
A escolha da pesquisa qualitativa justifica-se pelo facto de ser adequada
para a recolha de dados que permitem entender a natureza desse fenómeno social
e a interpretar seus sinais e símbolos significativos.
Para realização do presente artigo vai-se privilegiar a
pesquisa empírica e documental, tendo como base as fontes primárias, tais como:
livros, jornais, revistas, legislação e entre outras fontes consultadas. Estas
fontes possibilitarão a fundamentação e o enquadramento conceptual e técnico do
tema, a sistematização dos dados colhidos obedecendo uma abordagem que visa
partilha da análise e compreensão do tema em voga.
2.0. ALGUNS CONCEITOS
BÁSICOS
Antes de debruçar-se sobre a origem histórica da imprensa em Moçambique
propriamente dita, achou-se relevante trazer alguns conceitos básicos
necessários para a compreensão do tema, tais como: media, Estado, democracia e
cidadania activa.
Aurélio (2009:1328) numa perspectiva etimológico,
sustenta que o termo media “deriva do latim médium, que significa meio ou
centro. Uma outra abordagem sobre os media é colocada
por Hartley (2004:168) o qual sustenta nos seguintes termos:
“… médium, plural de média é simplesmente qualquer material através do qual
alguma coisa pode ser transmitida. Os Média são, assim, qualquer meio pelo qual
possam ser transmitidas mensagens. Dada a promiscuidade da semiótica humana,
quase tudo pode servir para transmitir uma mensagem, desde um cordão com duas
latas nas extremidades, a uma parede. Com o uso comum, este amplo significado
do termo estreitou-se para centrar nos mass media”.
De forma geral, tem-se como media, um conjunto de meios
de comunicação que tem como fim a transmissão de informação para sociedade ou
um determinado público.
Sobre o conceito de Estado, podemos ter como sendo uma
máquina ou um grupo de dominação política de carácter institucional basilar que
desempenha um certo número de funções, bem como importantes tarefas económicas
e sociais, sem interferência da vida privada de cada um e que os seus
governantes reivindicam com sucesso o "monopólio da violência física
legítima.
O terceiro conceito básico é o de democracia, visto de
forma problemática ou polémica, pois cada fase histórica foi interpretada com
base em filosofias de cada época. Para Sartori (1965:17) no sentido etimológico
o “termo democracia significa poder do povo”, isto é, o poder
pertencente ao povo. A democracia é um regime político a partir da qual o povo
tem o poder de tomar decisões importantes na sociedade, directa ou
indirectamente por meio de voto, pois o mesmo incorpora uma organização, a
divisão tripartido do poder do Estado, uma constituição, princípios de
responsabilidade e do consenso geral.
Por fim o conceito de cidadania activa. Onde na optica de
Benevides (1991:20) a cidadania ativa requer a participação popular como
possibilidade de criação, transformação e controle sobre o poder ou os poderes.
Por conseguinte, para a concretização da cidadania nesta perspectiva é
fundamental o conhecimento dos direitos, a formação de valores e atitudes para
o respeito aos direitos e a vivência dos mesmos.
3.0. IMPRENSA EM MOÇAMBIQUE
A imprensa em Moçambique passou por várias gradações, dais quais podemos
aglutinar em quatro:
A primeira fase a imprensa caracterizou-se por ser uma imprensa típica da
época, pois veiculava assuntos ligados à
colonia ou entorno do que circulava no território moçambicano sobre os
colonizadores. Era um canal privilegiado de expressão das elites, dos
dirigentes e dos grupos de pressão, ou seja uma aliada do sistema político, económico e ideológico
das elites europeias que ocupavam o território mas também, influenciou e
transformou o sistema de administração através da defesa dos ideais republicanos
e da denúncia da corrupção. Uma imprensa que apresentou baixa circulação e
propriedade dos grupos sociais, uma imprensa instrumentalizada com fraca
profissionalização e grande intervenção do Estado colonial.
No século XX surgiu uma imprensa que pôs em primeiro plano os conteúdos noticiosos
e informativos. Do mesmo modo, o impulso industrial e urbano propiciou o
aparecimento de um jornalismo crítico das relações económicas capitalistas. Na
véspera da transição da Monarquia para a República, com O Africano, surge
uma imprensa que questiona as relações entre europeus e africanos.
A imprensa em Moçambique remonta o período de 1854, feita para a comunidade
portuguesa na costa moçambicana, foi nesta altura que surge o primeiro Boletim
do Governo da Província de Moçambique e o o Almanach Civil Eclesiástico em
1859.
O primeiro jornal em Moçambique foi o Progresso, que apenas saiu ao público uma única vez, em
Abril de 1868, Constituía um espaço privilegiado de denúncia da situação
política e social do moçambicano, o
mesmo era escrito em língua portuguesa e Ronga.
Qual quer individuo poderia ser editor de um jornal. Assim sendo até a
primeira República em Portugal, vivia-se uma relativa “liberdade”, pois não
havia censura.
A segunda fase que ficou conhecida como imprensa combativa, assiste-se a
introdução
da censura e a
obrigatoriedade de publicação de notas oficiosas do governo, uma imprensa
controlada pelo governo, conhecida como imprensa de combate ou combativa em
1933.No mesmo período, nos grandes centros urbanos de Moçambique, formaram-se
associações que desenvolveram actividades socioculturais diversas muito forte.
A par desta imprensa combativa, vai surgir uma outra linha tida como
imprensa de ruptura com o desencadeamento da luta de libertação nacional em
Moçambique. Os primeiros jornais em Moçambique nesta fase, por razões de vária
ordem como por exemplo, técnica, política, económica e financeira, enceraram e
outras mudaram das linhas editoriais. Foi nesta fase que surgiu um outro tipo
de imprensa com o aparecimento da Frente de Libertação de Moçambique e por
conseguinte com início da luta de libertação nacional em Moçambique.
Nesta fase, a imprensa despertou a consciência dos jovens moçambicanos
sobre a situação sociopolítica; cimentou consensos entre moçambicanos de
diferentes grupos étnicos e introduziu um novo sentido de cultura, nova
percepção do mundo e consciência de um novo ser e estar em Moçambique. Assim
sendo, a imprensa exprime-se no protonacionalismo e estende-se pelo
nacionalismo.
A terceira fase da imprensa em Moçambique vai estar aliada a toda política
implementada a pós-independência nacional, onde havia necessidade de iniciar
tudo, com a expurgação do colonialismo português e os seus respectivos quadros
qualificados e a introdução de um sistema político de orientação
marxista-leninista fruto da bipolarização do mundo. Havia uma necessidade de
começar do nada a fazer jornalismo em moçambique, através dos ideias da
libertação e da criação de identidade moçambicana no jornalismo. Foi ainda
nesta fase que se introduziu a autocensura mais “nociva”, do que a
censura institucionalizada em 1933, agravada pelo sistema centralizado de
gestão editorial que começava na Direção do Partido único, passando pelo Estado
e chegava às redações. Os jornais transformaram-se em funcionários da causa política e não profissionais,
ou seja, na realidade não faziam jornalismo, mas sim veiculavam a propaganda do
partido do dia, pois existia uma política alinhada ao nível central do partido
Frelimo.
A imprensa em Moçambique nesta ultima fase, caracterizou-se por ser eminentemente
urbana e estar concentrada, sobretudo, na cidade de Maputo, uma imprensa
diferente das outras três anteriores, pois aqui ela foi um dispositivo que
permitiu ter uma nova constituição que abria espaço para o aparecimento de
outros actores e a “liberdade de imprensa” embora em alguns momentos
questiona-se a credibilidade de alguns jornais e linhas editoriais.
Uma nova página abria-se assim em Moçambique com a introdução do
multipartidarismo, que ficou a dever a criação da nova Constituição de 1990, que
introduziu o Estado de Direito Democrático, alicerçado na separação e
interdependência dos poderes e no pluralismo ideias. Com a nova constituição,
todos os cidadãos têm direito à liberdade de expressão, à liberdade de
imprensa, bem como o direito à informação.
4.0. SURGIMENTO DO SEMANÁRIO SAVANA
Com o advento do multipartidarismo em Moçambique na década de 90, com
aprovação da nova constituição e com aprovação da Lei 18/91 de Agosto, abria
espaço para o surgimento da imprensa privada. Foi assim que a 21 de janeiro de
1994, surge o primeiro tabloide independente, o SAVANA. Tratava-se de um grupo
heterogéneo, constituído por fotógrafos, redactores e reportes, que constituíam
antes a mediacoop que é empresa mãe ou dona do SAVANA.
O SAVANA e o mediafax pertencentes a mediacoop são
pioneiros e o embrião da comunicação social privada e independente em
Moçambique estes é que abrem um novo quadro da comunicação social no país. O Savana
tem como política a adopção de uma atitude independente e crítica em relação
a quaisquer poderes constituídos, institucionais ou particulares. O
semanário sai às sextas e tem nove editorias distribuídas: Tema da
Semana, Sociedade, Publicidade, No Centro do Furacão, Eventos Savana, Opinião,
Internacional, Desporto, Cultura. Ainda tem um suplemento humorístico designado
Sacana.
Apresenta como público-alvo todo o cidadão que sabe ler, e adopta uma
linguagem simples, clara e directa, sendo que, ideologicamente, se intitula
independente e abrangente. Abre espaço para que pessoas singulares possam usar
o jornal para expressarem os seus pontos de vista sobre um determinado assunto.
A sua política editorial tem-se caracterizado por grande abertura à
participação dos leitores.
SAVANA, prática um jornalismo investigativo com base em critérios de rigor,
criatividade, qualidade, informação e opinião diversificada, defesa e promoção
da verdade cultural nacional e regional, grande abertura a participação dos
leitores e respeito pela privacidade dos cidadãos.
5.0. A IMPRENSA COMO GRUPO DE PRESSÃO NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA ACTIVA
E DO ESTADO DEMOCRÁTICO EM MOÇAMBIQUE
Ao longo das suas edições, o SAVANA apresentou uma nova
maneira de fazer jornalismo, permitindo a participação de todos e de cada um.
Tornou-se um espaço de denúncia a partir de cartas anonimas.
A abertura do semanário a diferentes opiniões, sejam elas
a favor do governo do dia ou não. Exemplo: "A paz não vai descarrilar em Moçambique:
conversando com Armando Emílio Guebuza, negociador chefe do governo".
Semanário SAVANA (1994:2).
As publicações do SAVANA não se preocupam apenas com
líderes políticos ou académicos. Mas, com todas aquelas figuras com relevância
no quadro da nossa democracia em construção. Por exemplo: "O
músico José Mucavele diz que o país não anda porque na Frelimo há dirigentes
infiltrados". SAVANA (1999:2).
Traz a informação ao conhecimento de todos, e cria
condições para um debate e por fim a uma resolução pacifica e justa tendo como base a questão do Estado de direito. Na
sua filosofia, no que refere a abertura para ideias diferentes, no seu espaço,
traz personalidades da cultura.
Além de abordar temas políticos, económicos, culturais e
tantos outros, traz também assuntos sensíveis ligados a crença pelas
divindades. Numa conversa tida com o prelado máximo da Igreja Católica em
Moçambique, sobre um novo fenómeno de fuga de crentes para outras igrejas tidas
como pentecostais.
Contribui para uma maior participação dos cidadãos no
debate sobre o país, de forma critica e imparcial, fiscalizador, interpelação
dos vários poderes, denúncias, contribuindo desse modo para a construção e
consolidação da cidadania activa e do Estado democrático.
6.0. Considerações finais
O semanário surge no quadro das reformas estruturais e
políticas que Moçambique introduziu a partir de 1990 com a aprovação da nova
constituição da república.
Aparece como um mecanismo de pressão aos dirigentes que
muitas vezes tiveram que exonerar os visados dos cargos pela grande contestação
promovida pelos media.
O semanário é o embrião da comunicação social privada e
independente em Moçambique estes é que abrem um novo quadro da comunicação
social no país. Contribui para a participação mais activa dos cidadãos na vida
pública, na construção do país.
A imprensa em Moçambique passou vários estágios ou
gradações, onde faz-se referência a quatro etapas.
Podemos afirmar que o estudo respondeu as inquietações
levantadas, uma vez que a hipótese foi satisfeita. Quer dizer, como aventamos a
imprensa produz e publica informações sobre o país por via da escrita, com o
objectivo de deixar os moçambicanos, informados e formados, contribuindo deste
modo para a construção de um Estado democrático. As intervenções na elaboração
de políticas públicas que visam permitirem a participação do cidadão comum na
vida política do país e na mediação dos governados e dos governantes.
7.0. Referencias Bibliográficas
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[1] Maputo, aos 29 de Junho de 2017.
[2] Mestrando
em Ciências Politicas e Estudos Africanos, licenciado e Bacharelato em Ensino de História pela
Universidade Pedagógica.
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