I. TEORIAS DO SURGIMENTO DO ESTADO
A partir do momento em que o
homem descobre a agricultura e a pastorícia, torna-se sedentário.
Paulatinamente, introduz novos instrumentos de trabalho, o que resulta no
aumento da produção e surgimento do excedente. Deste cenário, aparecem os
primeiros sinais de diferenciação social, quando os chefes se apropriam dos
excedentes da população. Resultara disto o Estado na medida em que os chefes
para defenderem os seus interesses criam uma equipa de pessoas capazes de administrar
e organizar a sociedade em seu próprio benefício.
A propósito, existem várias
teorias sobre o surgimento do Estado, destacando-se as seguintes:
a) Teoria Marxista – O Estado é uma organização do poder político numa
sociedade de classes, uma máquina destinada a manter o domínio de uma classe
sobre a outra.
b) Teoria Liberal – A missão do Estado consiste em eliminar todos os
obstáculos que se opõem a uma vida agradável.
c) Teoria totalitarista – O Estado substitui-se ao corpo político e
identifica-se à comunidade nacional. É o único meio de canalização e expressão
da vida cívica.
II. PENETRAÇÃO MERCANTIL ÁRABE/PERSA: Origem, Natureza e Consequências.
2.1. Petração Mercantil Árabe-Persa em Moçambique
As evidências da presença
árabe-persa em Moçambique datam do século VI da N.E., altura em que se fundou a
feira comercial de Sofala. Entre os séculos IX e X há evidências duma
progressiva e lenta fixação de populações na costa moçambicana, nas Ilhas de
Zanzibar e Pemba, provenientes do Golfo Pérsico. Estas populações teriam
fundado, até o século XIII, os entrepostos comerciais no vale do Zambeze e no
planalto do Zimbabwe.
A partir do século XII, o
entreposto de Sofala tornou-se o principal exportador de Ouro para Mogadíscio.
Entre os séculos IX e XV, a hegemonia de exportação de ouro de Sofala foi
substituída por outros centros comerciais do Índico: Quíloa, a sul da costa da
Tanzania, Madagáscar e portos de Moçambique (Wamizi, Quitimba, Ilha de
Moçambique e para além da própria baia de Sofala).
2.2. Principais Actividades desenvolvidas pelos Mercadores árabe-persas
Os documentos escritos por
AI-Masud referem que na foz do rio Zambeze (baia de Sofala), mercadores
asiáticos trocavam tecidos indianos, missangas, olaria asiática, louças de
vidro e vários metais (enxadas, catanas, armas e a pólvora) por ouro,
proveniente do hinterland de
Moçambique.
Os povos árabes que mais
intervinham no comércio eram os Omanitas (de Oman, a sudoeste da península
Árabe) e os Sirafis (de Siraf porto Xiraz no Golfo Pérsico). A baia de Sofala
era conhecida como a terra de "baixio", a terra baixa do Zambeze. As
evidências arqueológicas mostram-nos a intensidade do comércio ao longo da
costa moçambicana. É exemplo, a louça diversa de origem persa, encontrada em Bazaruto.
A expansão do comércio na costa
moçambicana deveu-se a migrações, aos casamentos e aos contactos entre os
grupos locais e os recém-chegados árabes. Como consequência da prática de
comércio, em Quénia e na Tanzânia, surge uma nova cultura costeira, a cultura
Swahili. O Swahili penetrou em Moçambique devido ao desenvolvimento do comércio
de ouro e mais tarde do marfim (sec.XVI), tendo originado novos grupos
etno-linguísticos (Mwani na costa de Cabo Delgado; e as influencias sobre as
línguas Makua, o ahara na Ilha de Moçambique, o Koti de Angoxe).
O desenvolvido do comércio, o
advento do Islão e o contacto intenso entre os povos do hinterland e os povos do vale do Zambeze, deu origem a núcleos
islamizados da costa norte. Estes núcleos eram unidades políticas designadas
por xeicados e sultanatos, que depois de terem sido reprimidos por portugueses
nos sécs. XVI e XVII, teriam ressurgido, entre os séculos XVIII – XIX, ainda em
forma de pequenas unidades militares da costa. Estas unidades militares
praticavam o comércio de escravos.
Podemos concluir que foi a partir
da presença árabe-persa e das unidades islâmicas e militares da costa norte,
que as comunidades do interior de norte de Moçambique entraram definitivamente
no comércio internacional.
III. A PENETRAÇÃO MERCANTIL PORTUGUESA.
Os europeus portugueses chegaram
a Moçambique no ano de 1498 (finais do seco XV), sob a liderança de Vasco de
Gama. As primeiras terras pisadas por portugueses, em Moçambique, foram as de
Inhambane, onde tiveram uma boa recepção e hospedagem (receberam géneros
alimentícios e água, bem assim, informações sobre a existência de um caminho
para Goa). Antes da chegada a Ilha de Moçambique, Vasco da Gama atracou em
terras baixas de Zambeze, na foz do rio de Bons Sinais, onde assistira a
movimentação de canoas e comunidades afro-asiáticas a desenvolverem actividades
comerciais. Portanto, podemos considerar quatro períodos no quadro da
penetração mercantil portuguesa:
Primeiro período: Séc. XV-XVI.
• Domínio parcial português sobre
os portos do Índico (ligam a costa este de África com a costa Oeste do Índico e
asiática).
• Início de confrontos militares
com os mercadores árabe-persas ao longo da costa moçambicana pelo controlo do
ouro e do marfim (Estados de Muenemutapa e dos Maraves na região do Vale de
Zambeze).
• As consequências directas
destes confrontos foram a formação das feitorias portuguesas no séc. XVI: a
feitoria de Sofala em 1505, a da Ilha de Moçambique em 1507, Tete e Sena em
1530 e Quelimane em 1544. Em 1522, os portugueses iniciaram incursões militares
que culminaram com a ocupação, em 1570, do vale do Zambeze e de Mombassa em
1592.
Segundo Período - Séc. XVI -XVII
• Domínio militar dos portugueses
sobre os mercadores asiáticos ao longo da costa moçambicana;
• Domínio dos portugueses sobre o
império de Muenemutapa e seus entrepostos comerciais: Vale do Zambeze, Baixo
Zambeze (Sofala) e Manyikeni;
• A Ilha de Moçambique é chamada
Capitania de Moçambique.
Terceiro Período – Séc. XVII-XVIII
• Declínio dos Estados Marave;
• Formação de comunidades de
prazeiros ao longo do vale do Zambeze;
• Desenvolvimento do comércio de
marfim e o início do comércio de escravos;
• Em 1686 é fundada a Capitania
de Baneanes-Mazanes, em Diu, Índia.
• Em 1699 a coroa portuguesa cria
a junta de comércio livre; Estabelece as condições para a prática do comércio
livre com a companhia de Baneanes.
• Desmantelamento dos estados
militares da costa pelos portugueses.
Quarto Período - XVIII-XIX
• Em 1755 surgem as primeiras
clausulas estabelecendo o comércio independente com a Índia.
• 1758-1788- Criação paulatina da
Companhia de Mazanes e a perca da importância da Companhia de Baneanes;
• Desenvolvimento do comércio
legal de escravos em Moçambique.
• No norte de Moçambique, em
1750, funda-se a feitoria de Angoche, e em 1752 a de Sancul; Entre 1764 e 1765
funda-se as feitorias de Sangage, Quitangonha e da Ilha do Ibo.
• Entre 1765-1858- é formada a
Companhia das Índias Orientais.
• Em 1807 a Inglaterra declara oficialmente
a proibição do comércio de escravos nas suas colónias em África e funda postos
de fiscalização a partir dos meados dos anos do séc. XVII, nomeadamente o da
Ilha de Moçambique (em Moçambique) e da Cidade de Cabo (na África do Sul);
• Entre 1823-1827- presença do
capitão William Owen em The Lagoa Bay - baia de Maputo, facto que marca a
interferência do Governo britânico sobre no Sul de Moçambique;
• Entre 1832-1840- A costa
Oriental de Zanzibar é conhecida como a principal feira internacional da África
Sub-Saariana.
• Em 1836, Portugal adere ao
movimento abolicionista de comércio de escravo em suas colónias mas, continuou
a desenvolvê-lo sob a forma clandestina até os princípios do século XX.
NB: os períodos subsequentes, entre os meados do século XVIII e o
século XIX e o terceiro quarteto do século XX (1975) são conhecidos como
períodos do domínio do Governo colonial português (implantação da
administrações e sistemas de governação e exploração).
IV. O GRANDE ZIMBABWE E O ESTADO DO MWENEMUTAPA: o ciclo de ouro
Estado
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Formação
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Localização
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Economia
|
Estrutura
social
|
Aspecto
ideológico
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Decadência
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Observação
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Zimbabwe
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Forma-se
entre 1250 – 1450, resultante da luta e união de vários clãs pelas melhores
terras, pela criação de gado, pelas trocas comerciais. Essas comunidades
foram tornando-se cada vez maiores, com formas de organização mais complexa,
onde o comércio dava uma nova dinâmica à vida social.
|
Localizava-se
no actual território do Zimbabwe
|
Agricultura,
criação de gado, metalurgia do ferro, estanho e cobre e trocas comerciais
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A
classe dominante era constituída pela linhagem vencedora e a dominada pelos
clãs subjugados
|
Adoravam
esculturas de aves erguidas no alto da pedra-sabão
com os nomes de Shirichena e Shiriya sobre os quais acreditava-se que tinham
poderes sobre naturais
|
As
causas não são claras. Aventa-se a hipótese de se ter assistido a lutas entre
os clãs pelo controlo do comércio, pela procura de novas terras e do sal, e
pela utilização de novas rotas pelos árabes à chegada dos portugueses.
|
O
comércio à longa distância contribuiu para a formação do Estado na medida em
que alargou o padrão de consumo e incentivou as ambições territoriais dos
chefes e, mais tarde, para a decadência do Estado
|
Mwenwmutapa
|
Formou-se
em 1440-50 com a invasão de Mutota e do seu exército, o que resultou na
conquista dos territórios dos reinos existentes no território do Zambeze até
ao Limpopo
|
A
norte situava-se o rio Zambeze, a sul o rio Limpopo, a oeste o deserto de
Kalahari e a este o oceano Índico
|
Agricultura,
criação de gado e comércio do ouro
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1-Mwenemutapa:
chefe supremo
2-As
três mulheres do sobeno
3-Nove
altos funcionários (defesa, comércio,etc.)
4-Mambos:chefes
dos reinos subjugados
5-Fumos:Chefe
provincial
6-Mwenwmusha:
chefe de aldeia
|
O
culto era dedicado aos antepassados (os Muzimu). Os Swikiro eram os
intermediários entre os vivos e os mortos
|
As
causas são: a intervenção portuguesa nos assuntos internos do Estado; a
invasão dos Ngunis (1830-40); o desenvolvimento dos prazos do vale do
Zambeze; as permanentes lutas internas (conflitos interdinásticos)
|
As
relações comerciais a longa distância na primeira fase contribuíram para o
fortalecimento do Estado. E na segunda fase causaram a decadência. Este
império foi um dos primeiros a apresentar uma estrutura administrativa
organizacional complexa
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